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Era apenas uma pizza?!

cdn |03 mar, 2017

Era apenas uma pizza?! | InfraRedMed

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Se você adivinhou que esta imagem térmica é de uma pizza, parabéns! Consegue ir mais longe e adivinhar o sabor? Até o final deste texto você vai descobrir.

A obesidade é um distúrbio endócrino-metabólico caracterizado por uma inflamação crônica. Esta inflamação de baixo grau, que não esta ligada a nenhum tipo de infecção, é relacionada com diabetes tipo 2, hipertensão, aterosclerose, fígado gorduroso, disseminação metastática e asma. Apesar de ser uma doença inflamatória, não há aumento de células de defesa como neutrófilos, não há febre ou grande indisposição. Mas é uma inflamação sistêmica que ocorre com elevação na circulação sanguínea de proteínas pró-inflamatórias, denominadas citocinas, devido a um rápido aumento do tecido adiposo.

Os adipócitos e macrófagos do tecido adiposo são as principais células responsáveis pela produção destas citocinas inflamatórias. A principal função dos adipócitos é estocar gordura, mas eles também desempenham uma função endócrina (glandular), secretando muitas citocinas e hormônios.

Em nível molecular, esta atividade inflamatória inibe vias de sinalização da insulina das células beta do pâncreas contribuindo para resistência insulínica de todo corpo e consequentemente falha no controle dos níveis de glicemia e desenvolvimento do diabetes tipo 2 (Khan, 2006).

A mobilização de ácidos graxos dos tecidos adiposos para outros tecidos é controlada pelo sistema nervoso, hormônios e citocinas. As principais citocinas pirogênicas como TNF-alfa, IL-1 e IL-6 ativam adipócitos pela lipólise, na qual ácidos graxos livres são gerados a partir de triglicerídeos e liberados na corrente sanguínea.

A proteína mais abundante dentro do adipócito é a adiponectina, que tem um largo espectro de efeitos biológicos benéficos como síntese de insulina e ações antiaterogênicas (Wolf, 2004). A adiponectina inicia uma cascata de reações metabólicas que rapidamente transforma gordura corporal armazenada em energia. Infelizmente, a maioria das pessoas é deficiente em adiponectina e não queimam a gordura corporal armazenada de modo eficaz. A adiponectina induz a produção de mediadores antiinflamatórios como IL-10 e IL-1RA que inibe a ação dos macrófagos e regulando, portanto a ação das citocinas na obesidade e na doença hepática gordurosa não-alcoólica (esteatose hepática).

Porém uma dieta hipercalórica diminui a concentração da adiponectina, levando a diminuição da concentração de insulina e no desenvolvimento do diabetes tipo 2 em humanos e animais obesos. Concentração plasmática reduzida de adiponectina também é associada significantemente com risco de doenças cardiovasculares em humanos.

A diminuição da adiponectina leva a resistência à insulina por uma diminuição da oxidação de gordura em músculos esqueléticos, diminuição da captação muscular da glicose e ácidos graxos. Além da inativação da enzima adenina monofosfato quinase (AMPK) no fígado, resultando no aumento da produção de glicose hepática e diminuição da oxidação de ácidos graxos. Isto gera um acumulo de lipídios no fígado e músculo contribuindo para fisiopatogênese do fígado gorduroso e aterosclerose.

Foi constado que o extrato da Irvingia Gabonensis  (manga africana) pode resultar em perda significativa de peso, como também aumentar significativamente os níveis de adiponectina. Estudo demonstrou que indivíduos obesos que tomaram Irvingia quadriplicaram seus níveis sanguíneos de adiponectina e perderam até 18% de gordura corporal, com aumento do metabolismo e sem alterar o apetite (Oben, 2008; Ngondi, 2009). Mas recomenda-se que seu uso deva ser associado com adequada restrição calórica.

A restrição calórica também diminui níveis circulantes destas citocinas inflamatórias e atividades sinalizantes em uma variedade de tecidos (Fontana, 2010).

A restrição calórica retarda o envelhecimento, melhora a sensibilidade à insulina e aumenta a longevidade em vários modelos animais de laboratório. No entanto, apesar da alta adiponectina sérica e baixa inflamação, 40% dos indivíduos com restrição calórica podem apresentar uma resposta hiperglicêmica exagerada a uma carga de glicose. Esta diminuição da tolerância à glicose está associada a níveis mais baixos de IGF-1 circulante, testosterona total e triiodotironina, que são adaptações típicas à restrição calórica que prolonga a vida em roedores.

Mais recentemente foi descoberto que pequenos ciclos de jejum pode ajudar a diminuir o hormônio IGF-1 relacionado a alguns tipos de câncer, diminuir a pressão arterial e melhorar a produção de insulina pelas células betas do pâncreas, regularizando o nível glicêmico no diabetes e retardar também o envelhecimento (Wei, 2017). Nesta dieta que mimetiza jejum (fasting-mimicking diet), são realizados 3 ciclos de 5 dias de jejum consumindo ¼ da quantidade que se consume regularmente  depois, passa-se 25 dias comendo normalmente, sem restrições e retorna novamente ao jejum.  É um regime parecido com uma dieta vegetariana à base de nozes e sopas, mas com 800 a 1.100 calorias diárias. Esta dieta hipocalórica é hipoproteica, pobre em carboidratos e rica em gordura insaturada como azeite de oliva, castanha do Pará, amêndoa, salmão, sementes de linhaça e abacate, entre outros. As pessoas não devem experimentar esta dieta sem acompanhamento médico.

Faz alguns anos que a termografia infravermelha tem sido utilizada tanto em animais quanto em humanos para determinar o gasto energético em repouso bem como à atividade da gordura marrom. Sem a correta medida do metabolismo é muito mais difícil controlar e manter um peso saudável. A termografia permite calcular quanto que o seu organismo está queimando de energia pela captura de calor emitida pelo corpo, isto é, calorimetria direta. Com esta informação é possível determinar com precisão se sua dieta está acima ou abaixo do que você precisa, bem como determinar o nível de atividade física exigido para manter uma composição corporal saudável (Sacripanti, 2015).

A termografia também avançou nestes últimos tempos com seu uso para determinar se adultos tem gordura marrom (BAT) ativa ou não (Symonds. 2012). Foi descoberto que adultos podem também apresentar gordura marrom ativa sobre a região supraclavicular (Fig 1). Antes se acreditava que era presente apenas em recém-nascidos como meio de manter a temperatura corporal pelo seu alto efeito termogênico. Quando presente em adultos, apenas 40 a 50 g de BAT contribui com 20% do gasto energético diário. A importância metabólica da BAT é de que indivíduos com BAT têm menor peso corporal e glicemia de jejum. A BAT é um regulador chave no equilíbrio de energia e do metabolismo desempenhando uma função importante na homeostase de energia, protegendo da obesidade e diabetes induzida por dieta hiperlipídica. Constatou-se que ela pode ser responsável pela menor incidência de diabetes e obesidade em adultos. A BAT é, portanto um alvo para o tratamento da obesidade e diabetes. Alguns estudos tem tentado ativar a gordura marrom por meio de atividade física e crioterapia adaptativa.

Fig 1. Registro termográfico do aumento de temperatura da região supraclavicular ao estímulo frio por 5 minutos (mudança da cor verde para vermelho a medida que aumenta a atividade da BAT*).

*BAT = gordura marrom.

Mas voltando a imagem térmica apresentada no inicio deste post, se você foi mais longe, e identificou que é uma pizza de quatro queijos, muito bem! Pelo jeito está habituado ao seu consumo. Mas cuidado!  Depois de tudo que comentamos aqui você deve ficar atento, pois você sabia que uma fatia de pizza quatro queijos  pode variar de 350 a 420 calorias!! Encarada como a grande vilã, a massa da pizza é feita com farinha de trigo refinada, água, fermento e sal, resultando em uma mistura rica em carboidratos e o recheio de queijos provolone, gorgonzola, catupiry, é rico em gordura. Borda recheada? Resista ao pensamento do catupiry escorrendo pelos cantinhos da pizza e responda “não” rapidamente. Borda de catupiry ou cheddar acrescentarão 200 calorias, em média, na fatia de pizza, e transformar sua pizza em uma bomba mais calórica que um hambúrger fast-food. E, para aumentar as calorias vem o hábito de regá-las com azeite. A regra para uma pizza com baixo valor calórico é: massa fina, integral, apenas dois recheios, sem alimentos gordurosos e borda normal. E consumir no máximo até dois pedaços uma vez por semana.

Para pensar:

A obesidade pode ser considerada uma doença inflamatória?
Podemos considerar o tecido adiposo como um órgão endocrino? E na verdade uma glândula secretora?
Quanto mais variado o número de ingredientes mais saudável é uma pizza?
Pizza portuguesa é mais calórica que quatro queijos?

 

Referências

Kahn SE, Hull RL, Utzschneider KM. Mechanisms linking obesity to insulin resistance and type 2 diabetes. Nature. 2006 Dec 14;444(7121):840-6.

Wolf AM, Wolf D, Rumpold H, Enrich B, Tilg H. Adiponectin induces the anti-inflammatory cytokines IL-10 and IL-1RA in human leukocytes. Biochem Biophys Res Commun. 2004 Oct 15;323(2):630-5.

Fontana L, Klein S, Holloszy JO. Effects of long-term calorie restriction and endurance exercise on glucose tolerance, insulin action, and adipokine production. Age (Dordr). 2010 Mar;32(1):97-108. doi: 10.1007/s11357-009-9118-z. Epub 2009 Nov 11.

Oben JE, Ngondi JL, Blum K. Inhibition of Irvingia gabonensis seed extract (OB131) on adipogenesis as mediated via down regulation of the PPARgamma and leptin genes and up-regulation of the adiponectin gene. Lipids Health Dis. 2008 Nov 13;7:44. doi: 10.1186/1476-511X-7-44.

Ngondi JL, Etoundi BC, Nyangono CB, Mbofung CM, Oben JE. IGOB131, a novel seed extract of the West African plant Irvingia gabonensis, significantly reduces body weight and improves metabolic parameters in overweight humans in a randomized double-blind placebo controlled investigation. Lipids Health Dis. 2009 Mar 2;8:7. doi: 10.1186/1476-511X-8-7.

Wei M, Brandhorst S, Shelehchi M, et al. Fasting-mimicking diet and markers/risk factors for aging, diabetes, cancer, and cardiovascular disease. Sci Transl Med. 2017 Feb 15;9(377). pii: eaai8700. doi: 10.1126/scitranslmed.aai8700.

Sacripanti A, Buglione A, De Blasis T, Rossetti E, Andreatta G, et al. (2015) Infrared Thermography-Calorimetric Quantitation of Energy Expenditure in Biomechanically Different Types of Jūdō Throwing Techniques. A Pilot Study. Ann Sports Med Res 2(4): 1026 (2015)

Symonds ME, Henderson K, Elvidge L, Bosman C, Sharkey D, Perkins AC, et al. Thermal imaging to assess age-related changes of skin temperature within the supraclavicular region co-locating with brown adipose tissue in healthy children. J Pediatr. 2012;161:892-8.

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